Contados por Eugênia Morais

A bibliomante

Naquela manhã, exatamente naquela manhã, o que ela queria mais saber era do seu próprio futuro. Afinal já tinha adivinhado o futuro de tanta gente, por que não o seu próprio??
Pegou um livro de capa dura dourada na estante à sua frente. Era o mais bonito e volumoso que possuía na sua imensa coleção.
Com gestos calmos abriu o livro no meio em uma página escolhida ao acaso. Começou então a interpretação e à medida que lia desesperava-se.
— Não, não! Ela não ia esperar aquele futuro cruel que a esperava! — falou em voz alta.
Sorte desgraçada. Maldito infortúnio.
Com gestos mais calmos ainda — e decisivos —  queimou algumas folhas do livro.
Depois, serenamente e com passos decisivos  foi até o quarto ,pegou um veneno para ratos e sorveu-o de um só gole.
Pronto, agora sim, a sua sorte estava mudada.
Iria sim conseguir mudar o que a esperava, de uma maneira dolorosa, mas nem tanto quanto a que viu naquela página.
No dia seguinte, estampada nos jornais da cidade lá estava a sua morte revelada tragicamente. O seu futuro antecipando-se e sendo totalmente diferente daquele descoberto pelos seus dons de adivinhadeira.
Um futuro que ela nem chegou a ver, esperar, sequer adivinhar.

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